Mais uma vez volto a escrever sobre a importância da atuação intersetorial, nesse viés chamar a saúde, no sentido mais específico, a saúde mental para trabalhar a questão da pessoa que se mantém em situação de rua pelos diversos motivos. Não é suficiente um espaço público com o conjunto de oferta de atendimento através das ferramentas da política de assistência social. Se faz necessário articulação sim, mas se faz mais necessário ainda de forma emergencial a atuação prioritária da saúde, para que, após esse cuidado prioritário a vida, a assistência possa garantir seus direitos, através de suas necessidades de moradia, oferecendo os serviços de acolhimento. A pandemia do Covid-19 desde março deste, vem segurando um número considerável de pessoas em situação de rua dentro dos serviços, porém, a manutenção deste sujeito se torna oscilante, e o tempo é o grande vilão, cada vez fica mais difícil mantê -los longe das ruas e dentro dos serviços, são pessoas adoecidas através de suas histórias, culturas, vivências, mas conscientes para saber usar os serviços da forma que lhes convém. Não têmos como, sozinhos lidarmos com um conflito tão emergente, para um número tão considerável de indivíduos que vivem dia após dia sobre a margem, como disse antes, isso não é um problema unicamente da assistência social, os acolhimentos tem vagas, eles não estão acolhidos porque quiseram sair, se boicotaram, não aguentaram o processo do “resgate” e da “ressignificação” de si e de sua história, é um processo, exige tempo, é doloroso, não há um milagre. A saúde mental se faz importante porque a atuação dos CAPS ( CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL), além de contar com psicologia, terapia ocupacional, médico psiquiatra, enfermeiros, entre outros, eles atuam no sentido de oferecer atendimento continuado, através de um projeto individual, no qual permite que cada paciente seja atendido por meio de grupos terapêuticos, atendimento médico especializado com medicamentos que objetivam contribuir para amenizar o sintoma que prejudica sua vida enquanto uso abusivo de álcool e/ou substâncias psicoativas. O acolhimento tem o aspecto de rotina, acaba sendo ao mesmo tempo um espaço para se acomodar, eles devem ser estimulados a criar, se movimentar, cuidar de si, de seus pertences, manterem sua vida social ativa, portanto é necessário articular diversos setores e programas ao mesmo tempo, para que estes de fato, sejam incluídos em espaços saudáveis com novos sujeitos, novos hábitos comunitários e de capacitação profissional e de empregabilidade. Para concluir, estamos lidando com uma realidade contraditória daquilo que realmente pensamos, realmente existe uma crise na saúde devido a pandemia, existe uma crise econômica, existem alguns poucos casos de pais de família que perderam seus empregos e sem condições ficaram em situação de rua, mas dificilmente este cidadão ficaria por tantos anos nessa condição, com um sistema tão funcional, haja visto que dentro desse sistema que chamamos de proteções sociais, antes do acolhimento que se enquadra na alta complexidade existem a básica que atendem como um modelo preventivo de fortalecimento de vínculos e atendimentos básicos de benefícios, a média complexidade atuando na violação de direitos, negligência, abuso, abandono, ou seja, esse mesmo sujeito pode sim já ter sido herança de todas as outras proteções, a drogadicção não deve ser julgada, esses indivíduos podem ter sido crianças vítimas de violências, abusos, adolescentes que cumpriram medidas socioeducativas, mas não cabe a nós vitimizá-los e sair agindo com pena, fortalecendo sua condição adoecida.
Autora Coordenadora

Ane Caroline Nabas

Assistente social, especialista em saúde mental é coordenadora técnica da Associação Presbiteriana de Filantropia de Piracicaba

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